(...) Queriam ser reis, czares, tantas coisas, e rodeavam-se de pequenos
corvos, palradores e reverentes, dos que repetem: és grande, ninguém te iguala,
ninguém.
Repartiam entre si os tesouros e as dádivas, murmurando forjadas
confidências, não amando ninguém, nada respeitando (…)
Banqueteavam-se com a pequenez de tudo quanto julgavam ser grande, com os
quadros, com o fulgor novo-rico das vénias e protocolos. Vinha a morte e
mostrava-lhes como tudo é fugaz quando, humanamente, se está de passagem, corpo
em trânsito para lado nenhum.
Acabaram sempre a chorar sobre a miséria dos seus títulos afundados na terra
lamacenta.
José Jorge Letria, “Meditação sobre os poderes”
Expresso, 15 de Outubro de 2011