quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Maria

A vida de Maria assemelhava-se à de tantas mulheres com que se cruzava.
Era uma pessoa de sorriso fácil mas que não era sinónimo de felicidade. Aprendeu a resignar-se com a aquilo que a vida lhe ia oferecendo. Casara em tenra idade num dia solarengo de Agosto, com a presença de toda a família, a maior parte, imigrada em França.
Nesse dia, e noutros vindouros, confundiu felicidade com a expectativa de uma nova vida de sonho.
Gostaria de ter estudado, viajado, ser independente, mas os seus pais tinham outros planos para o seu futuro. O que era esperado de Maria era que casasse, tivesse filhos e honrasse um papel de mulher perfeita e submissa a uma vida serena e caseira.
Adaptou-se a essa perfeição tóxica e deixou-se levar pelo marasmo da monotonia.
Foi deixando de sonhar, pois percebeu que os sonhos e os seus seus objectivos jamais se realizariam.
Envelheceu, e a sua alma secou abrindo sulcos e, tal como a sua tez apresentava os sinais de desilusão com a vida.
Teve duas filhas, e decidiu que nunca as deixaria parar de sonhar. A mais velha seguiu medicina e espelhava a felicidade no brilho dos seus olhos, apesar de não ter casado e não ter tido filhos. A outra, casou teve filhos e era Educadora de Infância, mas o mais importante é que também era feliz e sentia-se realizada.
No fim da sua vida, Maria voltou a sonhar. Viu os seus objectivos serem cumpridos através das suas filhas.
Maria, igual a tantas outras mulheres!

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